Comorbidades Esofagianas

14 de Fevereiro de 2016

ACALASIA

Ausência de relaxamento com subseqüente dilatação do esôfago. Caracteriza-se clinicamente por disfagia progressiva e regurgitação.

Os estudos mostram três grandes anormalidades da acalasia:

aperistalse; relaxamento parcial ou incompleto do EEI; aumento do tônus basal do EEI.

O sintoma clínico clássico da acalasia é a disfagia progressiva. Pode ocorrer regurgitação noturna e aspiração do alimento não digerido.

Complicações: manifestação de carcinoma esofagiano, esofagite, divertículos esofagianos inferiores e aspiração com pneumonia ou obstrução das vias aéreas.

Tratamento: todas as formas de terapia são dirigidas ao alívio da obstrução. O esvaziamento esofagiano e a melhora dos sintomas pode ocorrer com dinitrato de isossorbida ou nifedipina (bloqueador dos canais de cálcio), dilatação mecânica (balão pneumático) e cirúrgica (quando há falha da dilatação ou grande risco de perfuração, realiza-se a secção direta do músculo EEI, poupando as fibras musculares gástricas para prevenir refluxo pós-operatório).

ESOFAGITE

Lesão da mucosa esofagiana com subseqüente inflamação. Pode ser decorrente de:

refluxo de conteúdo gástrico; intubação gástrica prolongada; ingestão de irritantes: álcool, ácidos ou álcalis corrosivos, líquidos excessivamente quentes e fumo inveterado; terapia anticancerosa (quimioterapia e radioterapia); infecção após bacteriemia ou viremia; infecção fúngica nos pacientes debilitados ou imunossuprimidos (candidíase é a mais comum);

O refluxo do conteúdo gástrico (esofagite de refluxo) é a primeira e a mais proeminente causa de esofagite. São implicados muitos fatores causais:

menor eficácia dos mecanismos esofagianos anti-refluxo; depuração esofagiana inadequada ou lenta do material refluído; presença de hérnia hiatal por deslizamento; maior volume gástrico, que contribui para o volume do material refluído. redução na capacidade de reparo da mucosa esofagiana por exposição prolongada aos sucos gástricos.

As muitas causas de esofagite exibem seus próprios aspectos característicos. A via final comum para todas elas é uma inflamação aguda intensa, uma necrose superficial e uma ulceração com a formação de tecido de granulação, acúmulo de detritos purulentos e eventual fibrose.  

As manifestações clínicas consistem principalmente em disfagia, azia, queimação retroesternal, hematêmese ou melena. O dano anatômico parece mais correlacionado com a exposição prolongada do esôfago inferior ao material refluído.

Tratamento: tem o objetivo de amenizar os sintomas e cicatrizar o tecido. Medidas simples (elevação da cabeceira da cama, eliminar o fumo, evitar o uso de roupas apertadas ao redor da cintura e utilizar antiácidos 01 hora após as refeições, ao deitar-se e S.O.S. Tratamento sistêmico: uso de antagonistas dos receptores H2, agentes procinéticos (metoclopramida) ou inibidor da bomba de prótons (omeprazol). Tratamento cirúrgico: restauração da competência esfincteriana (fundoplicadura).

Esôfago de Barrett

Afecção na qual parte do epitélio escamoso normal do esôfago é substituído por um epitélio colunar metaplásico em decorrência do RGE Principal fator de risco: RGE Sintomas: pirose, regurgitação de ácido, disfagia, hematêmese, melena, anemia, anorexia, perda de peso e manifestações extra-esofágicas (tosse) Alguns pacientes têm pouco ou nenhum sintoma ® redução da sensibilidade dessa área Tratamento: Cirurgias anti-refluxo - pacientes não responsivos ao tratamento clínico Esofagectomia - displasia de alto grau

HÉRNIA DE HIATO 

Caracteriza-se pela separação dos pilares diafragmáticos e alargamento do espaço entre os pilares musculares e a parede esofagiana.

Hérnia por deslizamento

Protusão do estômago acima do diafragma cria uma dilatação com formato de sino, limitada em baixo pelo estreitamento diafragmático.

Hérnia por rolamento

Uma porção separada do estômago, habitualmente ao longo da grande curvatura, penetra no tórax através do forame diafragmático alargado.

A causa da hérnia de hiato é desconhecida. A esofagite de refluxo é observada com freqüência na hérnias por deslizamento, mas o comprometimento do EEI com regurgitação dos sucos pépticos para dentro do esôfago pode representar muito mais o resultado que a causa de uma hérnia de deslizamento.

Sintomas como azia ou regurgitação podem ser atribuídos à incompetência do EEI e são acentuados pelas posições que favorecem o refluxo (inclinar-se para adiante, dormir em decúbito dorsal) e pela obesidade.

Complicações: ulceração que pode levar a sangramento e perfuração.

TUMOR DE ESÔFAGO

O carcinoma do epitélio esofagiano, tanto de células escamosas (epidermóide) quanto o adenocarcinoma, é incontestavelmente o tumor mais comum e importante do esôfago. Fatores associados com o surgimento de carcinoma do esôfago:

dietéticos: deficiência de vitamina (C, A, riboflavina, tiamina, piridoxina), deficiência de oligoelementos (zinco, molibdênio), contaminação fúngica dos gêneros alimentícios e alto conteúdo de nitritos/nitrosaminas;  estilo de vida: consumo de álcool e abuso de tabaco; distúrbios esofagianos: esofagite de longa duração e acalasia.

Sintomas: disfagia progressiva que se instala ao longo de vários meses, até que só se possa ingerir líquidos. A disfagia pode ser acompanhada de dor constante e penetrante. Em lesões mais avançadas manifestam-se com halitose, perda de peso ou tosse após ingerir líquidos

Tratamento: ressecção cirúrgica do carcinoma (quando não há metástases generalizadas), quimioterapia ou radioterapia. 

CONDUTA DIETOTERÁPICA NAS ENFERMIDADES ESOFÁGICAS

A dietoterapia para as principais manifestações esofagianas consiste em:

- Atenuar o refluxo gastroesofágico através do controle da capacidade gástrica;

- Prevenir a ação irritante ácida do conteúdo gástrico sobre a mucosa esofágica;

- Viabilizar a nutrição do paciente em casos de disfagia, estenose e tumor através da modificação da alimentação ou da via de acesso.

- Controle da capacidade gástrica

diminuir o volume e aumentar o fracionamento (principalmente nas grandes refeições); evitar grandes concentrações de gordura (evitar o retardo do esvaziamento gástrico); evitar deitar-se ou se esforçar após as refeições (diminuir a compressão gástrica); evitar líquidos durante as refeições, principalmente bebidas gasosas (impedir distensão abdominal); controle do peso (evitar a obesidade)

- Controle do refluxo gastroesofágico e esofagite

avaliar estado nutricional; evitar alimentos que causam desconforto (avaliar na anamnese alimentar); evitar grandes concentrações de gordura (diminuem a pressão do esfíncter esofágico); evitar chocolate, álcool e bebidas que contenham cafeína, como: café, chá e bebidas derivadas de cola (estimulam a acidez e diminuem a pressão do esfíncter esofágico); evitar o fumo (diminuem a pressão do esfíncter esofágico); evitar o uso de condimentos como pimenta, canela, hortelã, menta (estimulam a acidez e diminuem a pressão do esfíncter esofágico); evitar deitar-se ou se esforçar após as refeições (diminuir a compressão gástrica); elevar a cabeceira da cama.

- Controle da ingestão em casos de estenose ou tumor

evitar a desnutrição; dietas hiperproteicas e hipercalóricas; modificar a consistência da dieta para que haja melhor aceitação, normalmente dietas de consistência líquida ou semi-líquida são melhor toleradas; utilizar suplementação via oral; diminuir o volume e aumentar o fracionamento; utilizar suporte nutricional enteral (via gástrica ou entérica) na impossibilidade de utilização da via oral.

Por: Anna Carolina Accioly - Nutricionista

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